quarta-feira, novembro 30, 2011

#Estamos a Recuperar #

HH_
A memória dos dias felizes havia-se transformado num ponto distante incapaz de ser invocado. E isso era bom. Não queria lembrar os dias felizes - aquele sorriso subtil do chegar a casa, do ter onde chegar. Por isso, a memória esbatida era boa. E a falta de esperanças não era mais do que mais uma falta no meio de tudo o que lhe faltava. A esperança caia-lhe. E, não a tendo, era isso tudo o que tinha. Aquela ponta de força não permanente no meio do nada, no meio do frio e das noites. Permanentes.
Deitou-se ali para que o notassem. Deitou-se ali para que notassem ao menos o letreiro - Estamos a recuperar o património da Baixa. No meio das noites (permanentes) só tinha de rodar a cabeça e ler. Estamos a recuperar... Era como uma força a subir-lhe pelo corpo, como se, por estar ali, pudesse recuperar.
Tinham havido dias normais - do levantar de manhã, do trabalho, do regressar. E agora aquilo - não mais normalidade naquela vida, naquela coisa a que não se atrevia a chamar vida. Naquela coisa. Sentia que não havia já nada a perder e que o património era coisa que não lhe dizia respeito. Mas, à noite, no meio dos sonhos, o letreiro parecia-lhe luminoso - o letreiro era a ponta de força no meio do nada. Já não pedia a mão (e a mão era tudo o que sonhava) nem os olhares não-indiferentes. Sabia que as cidades são como as selvas, onde a luta pela sobrevivência é o que conta no final. Sabia que a selva era a casa dele. Mas se ao menos alguém questionasse: Estamos a recuperar o património da Baixa?
Mariana Correia Pinto

sexta-feira, novembro 25, 2011

# O dia começou assim...#

Continuação do projecto "Enquanto Estamos Acordados"
#PP_LOGO_01
#PP_LOGO_02

terça-feira, novembro 15, 2011

# Exposição Na Casa De #

Inauguração na Fnac do Gaia Shopping no dia 19 Novembro 2011 , ás 18.30
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12

Exposição NA CASA DE

Que todas as portas se abram

Há pessoas assim. Capazes de se entregar, durante um ano, a um projecto que — sabem-no — lhes trará uma dor incomensurável ao corpo e à alma. Mas que sabem também que ignorar o que está para lá das fachadas de um casario aparentemente arrumado, virar a cara para o lado e fingir que nada se vê, significaria viver com uma dor infinitamente maior. Por isso, insistem. Empurram portas e saltam muros, abrem janelas e espreitam buracos nas pedras. E fazem com que todas as portas se abram, para que nenhum de nós possa dizer, eu não sabia de nada. Eu não vi. Ninguém me avisou.
Há pessoas como o Paulo Pimenta e o José António Pinto. Capazes de se comprometerem. Capazes de se entusiasmarem um ao outro na busca do que tem de ser mostrado e empenharem-se para, cada um com a sua arma — o primeiro com a máquina fotográfica, o segundo com a experiência do assistente social —, mudarem um bocadinho, por mais pequeno que seja, da miséria que testemunham. O Paulo recorda que uma amiga costuma dizer-lhe que sabe que não pode mudar o mundo, mas que todos devemos fazer o possível para mudar nem que seja uma vírgula. E ele vai atrás dessa vírgula. De muitas vírgulas.
E foi assim, por causa de pessoas como o Paulo e o José António, que durante um ano, Laurinda, Albino, Juliana ou Delfim abriram as portas das suas casas de tristeza, as casas pobres e húmidas que queriam trocar por outras, claras e seguras, mas que são ainda as suas casas. O seu tecto sobre a cabeça.
O resultado é um conjunto de imagens e histórias tocantes, que nos mostram tudo sem nunca chegarem a ser intrusivas. Apetece-nos chorar pela fragilidade que imaginamos por trás de uma camisa estendida a secar ou pelo corpo cansado estendido entre lençóis de uma cama demasiado desamparada, encostada a uma parede que se adivinha fria e escorregadia de chuva nos dias de Inverno. Queremos ter esperança, pelos pés de criança que despontam atrás de uma Hello Kitty de vestido de folhos. E quase pedimos para poder partilhar a fé de quem espalha santos e virgens por sítios improváveis.
As pessoas habituam-se a tudo. Habituam-se a chamar casa a barracas insalubres. Às gretas nas paredes. Às manchas negras da humidade. A dormirem no chão da cozinha para que os filhos tenham uma cama. Aos fios eléctricos descarnados que se cruzam com a mesa do jantar. À solidão sem palavras. Às vezes, é isso que mais dói. Quando um velho de 80 anos se habituou ao que não devia. A chamar casa ao que não devia ser uma casa. E fica uma raiva imensa, quando chegados aí, quem podia roubar-lhes esse hábito triste e dar-lhes uns dias melhores, não chega a tempo.
Felizmente, há pessoas como o Paulo e o José António. E exposições como esta, de onde ninguém sai incólume. E ainda bem que assim é.

Patrícia Carvalho
ver o resto
http://static.publico.pt/docs/local/pobrezaporto/

segunda-feira, novembro 14, 2011

# Estiveste alguma vez apaixonado? #

1
2
3
4
5
6
7
“ Estiveste alguma vez apaixonado?É horrível, não é? Fica-se tão vulnerável?Ficas com o peito e o coração abertos e outra pessoa pode entrar dentro de ti e resolver-te por dentro. Constróis todas essas defesas, constóis uma armadura que te cobre de alto a baixo para que ninguém te possa ferir, e depois uma pessoa estúpida, igual a qualquer outra pessoa estúpida, atravessa-se na tua vida...Dás-lhe um bocado de ti. Não to pediram. Fizeram um dia uma estúpidez qualquer, como beijar-te ou sorrir-te, e a tua vida deixou daí em diante de ser tua. O amor faz reféns.Entra dentro de ti.Come-te e deixa-te a chorar no escuro, e é assim que uma simples frase do tipo «talvez devêssemos ser só amigos» se transforma num estilhaço de vidro que te vai direito ao coração.Dói. Não é só na imaginação. Não é só mental.É uma dor da alma, uma dor real que te invade e te rasga e te parte. Odeio o amor.”
Violência
Slavoj Žižek

terça-feira, novembro 01, 2011

#Força..#

Todo o amor deste mundo
Perdido num segundo
Todo o riso transformado
Num olhar apagado
Toda a fúria de viver
Afastada do meu ser
Até que um dia acordei
E vi que estava a perder
Toda a força que cresceu
Na vida que deus me deu
A vontade de gritar bem alto:
O meu amor morreu
Todo o mundo há-de ouvir
Todo o mundo há-de sentir
Tenho a força de mil homens
Para o que há de vir

Flashback instantâneo
Prazer momentâneo
Penso e digo até
Que bate duro
No meu crânio
Toda a dor
Toda a raiva
Todo o ciúme
Toda a luta
Toda a mágoa e pesar
Toda a lágrima enxuga
Odiando como posso
Não posso encher a cabeça
Não há dinheiro
Nem vontade
Ou amor que o mereça
Não vou pensar de novo,
Vou-me pôr novo
Neste dia novo
Estreio um coração novo
Visto-me de branco
Bem alegre no meu luto
Saio para a rua
Mais contente que um puto
Acredita que custou
Mas finalmente passou
No final do dia
Foi só isto que restou
Da Weasel
1
2
3
4